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Ninguém esquece o primeiro trabalho – e o de Beatriz Nunes foi nos Concertos para Bebés do Oceanário, em 2004. Os colegas, que, tal como ela, vinham da Academia de Amadores de Música, já tinham alguma experiência com crianças e jovens (muitos eram professores, um já tinha filhos), mas para ela era tudo novo. «Tinha 20 anos e aprendi tudo com eles», recorda em vídeochamada com a Time Out. «Eles» são os Músicos a Brincar, o grupo especializado em música, psicologia e educação (composto por duas vozes, uma flauta transversal e uma guitarra) responsável pelo projecto inédito do Oceanário.
Duas décadas, 9400 sessões e 15 mil bebés depois (o projecto só parou durante a pandemia e nos meses de Agosto), muita coisa mudou no espectáculo imersivo que se repete todos os sábados de manhã e nos terceiro e último domingos do mês à frente do aquário central do Oceanário. «É uma receita que está a ser cozinhada e apurada há 20 anos», diz a soprano. «Já chegámos a incorporar erros. Uma vez, por exemplo, as duas vozes chocaram durante o espectáculo e simularam uns movimentos trapalhões. O acidente teve graça e passou a fazer parte.» Mas uma coisa nunca muda: os bebés. «O ritmo do concerto é adaptado aos tempos de atenção dos bebés. Há muita interacção – um a um, daí termos sempre grupos pequenos [16 bebés por sessão, no máximo] –, e materiais adaptados à sua disponibilidade», descreve Beatriz, que juntamente com os Músicos a Brincar, já fez espectáculos noutros museus e edifícios históricos.
A imprevisibilidade faz parte (afinal estamos a falar de seres humanos com até 3 anos de idade), mas não faltam ferramentas para lidar com ela. «A psicologia tem um papel muito importante, perceber como funcionam a cognição e o tempo de atenção de um bebé. O contexto relaxante e escuro também promove o conforto. Quando pontualmente acontece um bebé estar menos confortável, temos ferramentas para saber lidar», garante, dando o exemplo da caixa SOS de materiais onde estão, entre outras coisas, estrelas do mar fofinhas.
Sem bebés ninguém entra (já muitos tentaram), mas nem por isso o evento de 45 minutos é só para os mais pequenos. «A nossa vontade é que seja uma boa experiência para toda a família. Os pais também aproveitam o espectáculo, num ambiente mágico e relaxante para quem tem um bebé.» Beatriz, que também dança durante o Concerto para Bebés, numa coreografia que quase parece sincronizada com os peixes do aquário, conta que alguns adultos se entusiasmam e cantam e dançam com os seus filhos.
Também Beatriz foi mãe entretanto – e isso fez toda a diferença, revela. «Não só no à-vontade com a segurança dos bebés, mas principalmente na empatia com as famílias. Do outro lado pode estar uma pessoa com privação de sono, que acordou cedo e se arranjou para ali estar. A responsabilidade de dar o melhor espectáculo é muita.» E vai continuar: os Concertos para Bebés esgotam regularmente. Quem sabe, não chegam aos 40 anos.
Concertos para Bebés. Oceanário (Parque das Nações). Todos os sábados e nos terceiro e último domingos do mês, 09.00. 54€ (um bebé e dois adultos, com visita livre ao Oceanário incluída, antes da abertura das portas ao público)
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