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★★★★☆
Persona 3 redefiniu o que podia e devia ser um RPG (role-playing game, ou jogo narrativo) japonês. Manteve os combates por turnos, entre os personagens escolhidos e controlados pelo jogador e grupos de inimigos; as labirínticas masmorras, geradas aleatoriamente, com tantos desafios como recompensas; um vasto elenco secundário e um leque de figurantes com quem conversar, mesmo quando não tinham nada a acrescentar ao enredo; entre outras características comuns a este tipo de videojogos. Mas introduziu elementos e ideias inéditas ou pelo menos exteriores ao género, colocando maior ênfase nas relações inter-pessoais, inspirando-se em simulações parassociais como The Sims, e forçando os jogadores a gerir não só a alocação de recursos e o progresso dos protagonistas, como as actividades diárias dentro do jogo, cingindo acção a um ano lectivo.
Desde que foi lançado, em 2006, inspirou múltiplos videojogos. Raramente foi superado – Persona 5 (2016), o mais recente título numerado desta franquia, é capaz de ser melhor em todos os aspectos, mas é um exemplo isolado. Não obstante, já acusava a idade. A apresentação e os pormenores visuais eram o mais aberrante, sem serem as únicas limitações técnicas e formais. Além disso, só era possível jogar esta versão na PlayStation 2, e uma posterior edição Portable, criada para a PlayStation Portable, mas disponível nos computadores e nas consolas actuais, comprometia a visão original. O novo Persona 3 Reload, lançado em Fevereiro no PC, além das várias Xbox da Microsoft e das consolas PlayStation 4 e PS5, por outro lado, nada deve ao clássico dos anos zero.
Esteticamente, é óbvia a influência de Persona 5. No desenho do elenco, nos menus arrojados e com personalidade vincada, assim como na sonoplastia, no cuidado e na atenção aos pormenores – pequenas coisas que podem passar ao lado da maioria, mas potenciam uma maior imersão neste mundo virtual. A arquitectura dos mapas e dos cenários onde se desenrola a narrativa também é mais rica e complexa; os personagens com que interagimos mais vezes ganharam voz e os diálogos sofreram alterações cirúrgicas, sem traírem a mensagem e o espírito dos textos originais. Há ainda pequenos acrescentos e apontamentos lúdicos, que actualizam Persona 3 para o presente. Ninguém diria que é uma reconstrução fiel de um RPG japonês com quase 20 anos.
A sua actualidade deve-se, em grande parte, à caracterização fragilmente humana dos protagonistas e aos temas abordados. Por trás de uma narrativa apocalíptica, em que o ocultismo e a ficção científica se tocam, Persona 3 Reload é uma história liceal. Com as doses certas de tesão e de coração, versa sobre a entrada na idade adulta e a procura de um sentido para a vida, tocando em pontos sensíveis como o suicídio, a auto-mutilação e outros comportamentos destrutivos – os heróis descobrem o seu verdadeiro potencial quando apontam uma pistola à cabeça e primem o gatilho. Sem ser perfeito, é gloriosa e desavergonhadamente adolescente. Tão tocante em 2024 como foi há duas décadas.
Disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series X/S.
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