Italo Calvino não viveu para ver publicadas as suas Seis Propostas para o Próximo Milénio, tão pouco chegou a testemunhar a viragem do século. As teses tinham Harvard como destino, mas o escritor italiano morreu antes de concluí-las e estas acabaria por ser publicadas – inacabadas – em 1988. Para Sérgio Fazenda Rodrigues, as expectativas de Calvino face ao novo milénio foram o ponto de partida perfeito para dar forma a um novo projecto expositivo em Lisboa. O Kindred Spirit abriu portas na última quinta-feira e não é o que parece.
“Não é uma galeria, não tem vocação comercial. O que norteia o espaço é uma ideia de curadoria”, começa por assinalar o curador, que em 2019 começou a esboçar um projecto que trouxesse a arte contemporânea como fruto de um trabalho a quatro mãos. “O objectivo é promover uma lógica de diálogos. Haverá sempre um artista português e um estrangeiro, da mesma forma que haverá sempre um curador português e um estrangeiro, convidado. Ou seja, a curadoria é sempre partilhada.” Um pressuposto que reside no próprio nome – kindred, do inglês arcaico, denuncia uma relação de proximidade entre ideias, metodologias, objectivos e inquietudes. “É algo entre o companheiro de viagem e a alma gémea”, esclarece.
Mas e as propostas de Italo Calvino? Essas deram origem ao ciclo de seis exposições que aqui, na Rua da Boavista, se vai desenrolar durante os próximos dois anos. A primeira – “Rizoma”, termo que viajou da botânica para a filosofia para representar algo “que não tem uma hierarquia ou uma lógica tradicional de crescimento” – incide sobre a ideia de leveza. “[As propostas de Calvino] são ideias que apontava com alguma expectativa para aquilo que poderia vir a ser o século XXI. O meu olhar pega nesta muleta, não lhe responde directamente, mas olha para o momento actual. Não vou tentar ilustrar nem contrapor de forma directa, vou tentar entender o que, hoje, faz sentido responder às expectativas dele.”
Para a exposição inaugural, Sérgio convidou Virginia Torrente, curadora espanhola que co-assina a folha de sala. Na pequena divisão de paredes e colunas brancas, mantida na penumbra com a ajuda de duas persianas, estão três obras. A que salta imediatamente à vista é From Things to Flows, instalação da espanhola Cristina Mejías. Exibida pela primeira vez em Portugal, assemelha-se a uma duna ondeante, disposta no chão.
“Parte deste cruzamento do que é uma cultura popular e uma cultura erudita, mas associado à ideia de arqueologia. Vais andando em torno dela e descobrindo artefactos ou situações, por cima e por baixo da linha do olhar. E esta ideia do que é imaginário e do que é factual, do que é construção da tua imaginação e do que é construção da história”, explica Sérgio, que é também director da revista Contemporânea, além de ter colaborado recentemente com o Ministério da Cultura e com a DGArtes na aplicação Portugal Contemporary Art Guide.
Ao fundo, há 22 minutos de vídeo projectados na parede. Sombra Luminosa é o resultado da análise feita pelos portugueses Mariana Caló e Francisco Queimadela, após uma pesquisa no espólio CIAJG (Centro Internacional das Artes José de Guimarães), em 2018. Mais uma vez, os autores baralham realidade e efabulação, popular e erudito. “O que a exposição tenta trazer à conversa é o abolir desta hierarquia, o valor tanto da tua imaginação como do conhecimento académico”, reforça o curador.
“Rizoma” fica patente até 14 de Abril, altura de dar lugar à segunda de seis exposições que compõem o ciclo In The Present Now. Um dos objectivos é levar cada um dos momentos ao país dos convidados. Estas obras seguem depois para Madrid e dão lugar ao trabalho em parceria com um artista e um curador dinamarqueses. “Estou a fazer um ciclo de exposições, com uma estrutura já desenhada. Se tiver verba para continuar depois deste ciclo e pensar numa outra coisa, será sempre na mesma lógica.”
Sem apoios por parte da DGArtes, Sérgio admite que o projecto resulta da própria teimosia. Sem traçar o futuro do Kindred Spirit a longo prazo – ou, pelo menos, depois dos primeiros dois anos –, reitera a pertinência de espaços como este. “É um sistema que se complementa e que vive de relações. Há artistas que vou descobrindo em galerias, há galerias que se calhar podem vir encontrar muitas coisas noutro tipo de espaços. E, em Portugal, não há assim muitos espaços como este.”
Rua da Boavista, 54 (Cais do Sodré). 21 716 2220. Ter-Sex 15.00-19.00 (Sáb por marcação). Até 14 Abr. Entrada livre
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