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A primeira edição do Salavisa European Dance Award galardoou a artista multidisciplinar Dorothée Munyaneza e o bailarino e coreógrafo Ídio Chichava. O prémio, criado em 2023 pela Fundação Calouste Gulbenkian, procura distinguir o trabalho de artistas de todo o mundo.
O Salavisa European Dance Award foi criado com o objectivo de homenagear o legado de Jorge Salavisa, bailarino, professor e director artístico de instituições como o Ballet Gulbenkian, a Companhia Nacional de Bailado e o Teatro Municipal São Luiz, e ainda de forma a dar maior visibilidade, dentro do circuito europeu, aos artistas internacionais.
Os vencedores da primeira edição do prémio de dança, conhecidos esta quarta-feira numa cerimónia na Gulbenkian, foram Dorothée Munyaneza e Ídio Chichava. O valor de 150 mil euros será partilhado entre os dois artistas, a quem também será dada a oportunidade de apresentar as suas criações artísticas nos palcos das instituições culturais parceiras (Bienal de Dança e Maison de la Danse de Lyon; Dansehallerne, centro de dança de Copenhaga; ImPulsTanz, festival internacional de dança de Viena; Joint Adventures de Munique; K.V.S. de Bruxelas; o teatro Sadler’s Wells, em Londres, e ainda a Fundação de Kees Eijrond dos Países Baixos).
Para Dorothée, o prémio é uma forma de reconhecer a arte no seu todo. “Estou muito honrada pelo facto de o meu trabalho ser reconhecido desta forma, porque estamos aqui e fazemos isto há muito tempo. Não significa que receber este prémio nos torna mais importantes, não é isso. Mas mete os holofotes em nós e diz ‘nós estamos atentos, estamos a ver o que estão a fazer’”, afirma a artista à Time Out. E realça: “Isto encoraja-nos a continuar numa altura em que tanta coisa está em risco. Os orçamentos para a cultura estão a ser cortados, o que pode ser muito desencorajante para continuar a criar e para continuar a acreditar na arte que escolhemos. E, por isso, significa muito receber este prémio”.
A artista nasceu no Ruanda, em 1982, e mudou-se aos 12 anos com a família para Inglaterra. Há 16 anos que está a viver e trabalhar em Marselha. O seu percurso artístico assenta na vontade de colaborar com artistas de diferentes idades, áreas, nacionalidades e línguas. “O trabalho é um espaço onde nos reunimos para habitar e expandir a nossa mentalidade. Estamos a viver tempos muito violentos, em que precisamos de abrir os nossos corações, abrir as nossas mentes e acolher aquilo que é estranho para nós e que nos parece distante.” E parte ainda da multidisciplinaridade, sendo que o seu trabalho tanto passa pela música, como pela dança (inclusive fundou a companhia de dança Kadidi), literatura, ou representação.
No Outono do próximo ano, a artista irá apresentar, no Alkantara Festival, Umuko, peça de teatro que explora o período colonial e a ancestralidade.
Também em 1982, Ídio nasceu em Moçambique, e além de bailarino e coreógrafo é director artístico da companhia Converge+. Com a atribuição do prémio, o caminho para profissionalizar a dança em Moçambique, missão a que se propõe, parece tornar-se mais fácil de fazer. «De certa forma, vai fortificar o trabalho da minha companhia, institucionalizar a companhia de maneira a que o mundo possa vê-la como uma instituição de dança séria. E ser uma instituição de dança é criar programas que possam gerar emprego e formações, que possam certificar bailarinos, criar intercâmbios e criar pontes para que bailarinos saibam para onde ir com a dança», explica.
Por outro lado, o facto de o reconhecimento chegar de fora de Moçambique tem o seu peso. «Sinto que é um dever quase realizado no que toca às nossas batalhas quotidianas para melhoramento e reconhecimento da dança. Este prémio começa a efectivar isso, começa a alicerçar de forma concreta o lugar da dança em Moçambique. Este prémio, vindo de onde vem, leva a reconhecer o trabalho que é feito com moçambicanos», acredita.
O trabalho de Ídio, que parte da sua formação em dança tradicional moçambicana, explora a relação do corpo com o espaço, a descolonização do corpo e também de como as danças tradicionais dialogam com as linguagens contemporâneas que caracterizam a dança global. «O meu trabalho está muito centrado nisso, nas minhas experiências como moçambicano e africano, em que tive a possibilidade de trabalhar no Ocidente e de encontrar vários pensadores da dança. Cria uma linguagem ou um vocabulário que é totalmente autêntico, mas que tem sempre identidade e que respeita, de certa forma, a formação tradicional.»
Dorothée Munyaneza e Ídio Chichava foram escolhidos a partir de um conjunto inicial de 21 nomeados, dos quais cinco foram seleccionados. Ao lado de Dorothée e Ídio estavam também a marroquina Bouchra Ouizguen, a portuguesa Catarina Miranda e a franco-argelina Dalila Belaza. O júri foi composto pela coreógrafa e bailarina dinamarquesa Mette Ingvartsen, a brasileira Nayse López, que é directora artística do Festival Panorama, e Fu Kuen Tang, produtor e dramaturgo sediado em Banguecoque.
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