CCB – Centro Cultural de Belém. 13-14 Dez. Sex 20.00 e Sáb 19.00. 12€-20€
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Nos 50 anos da revolução, Victor Hugo Pontes não quis apresentar uma coisa pessimista, nem sombria. Não quis criar uma peça que reflectisse aquilo que nos preocupa ou atormenta nos tempos que correm. E não quis gritar o que está mal ou o que temos de fazer para que tudo melhore. Em vez de levar a revolta ao palco, quis formar um corpo de intérpretes que dança a liberdade. Sem amarras, sem nada. Em Há qualquer coisa prestes a acontecer, 19 bailarinos movimentam-se ao ritmo do que é ser livre, relembrando-nos aquilo que temos e que não queremos perder. Para ver no CCB, esta sexta-feira e este sábado, 13 e 14 de Dezembro.
No princípio, não havia nada. Depois, surgiu uma mulher. No silêncio que se abate sobre a sala de ensaios, ela aparece de pés descalços e mexe-se lentamente em direcção ao centro. Mexe os braços, contorce as pernas, vira o tronco, até que uma segunda pessoa entra do seu lado oposto. Desta vez é um homem que, como ela, também mexe os braços, contorce as pernas e vira o tronco. Enfim, encontram-se. Frente a frente, os seus corpos ganham uma nova dimensão, em que os movimentos de um e do outro se estendem entre si. E assim, começa a mais recente criação de Victor Hugo Pontes.
Mas, antes de ir para o palco, foi na inquietação que nasceu Há qualquer coisa prestes a acontecer, mais precisamente, naquela sobre a qual canta José Mário Branco. “Eu senti que esta inquietação ou este tempo em que algo vai mudar, esta situação iminente de grande mudança que vivemos era muito importante”, partilha o coreógrafo, lembrando que foi quando se deparou com o verso do cantautor que percebeu o rumo que havia de tomar para esta criação. Pensar depois no contexto político e social actual da sociedade revelou ainda mais a pertinência deste verso. “Politicamente, as coisas estão realmente a mudar. Há um aumento expressivo da extrema-direita, tanto em Portugal como no mundo. Há grandes direitos que foram lutados em Abril que, de repente, são postos em causa e era tempo de pensar nisso, pensar naquilo que nos ameaça.”
Porém, ao longo do processo, foi tornando-se cada vez mais óbvio que esta seria uma peça de celebração e que, por isso, os tormentos que pairam sobre nós aqui não tomariam forma. “Achámos que devíamos celebrar o facto de estarmos livres, de a liberdade ser um direito e que não devíamos ter medo. A ideia de que somos ameaçados também é uma ideia que nos querem impor para que nós tenhamos medo. E existe uma contracorrente, é uma frase da Capicua que é ‘eles têm medo que nós não tenhamos medo’. Portanto, se nós mostramos que não temos medo e que isso não nos abala, somos muito mais fortes e poderosos”, acredita.
Neste sentido, os corpos, que se vão transmutando de passo em passo, vão conduzindo sequências sincronizadas e mecânicas. De 19 bailarinos passam a ser um só, dançando conforme mandam os braços e as pernas, de um lado para o outro, em cantos opostos e de trás para a frente. E os movimentos, que começam por ser mais rígidos, como que liquidificam e amolecem. Libertam-se mais e mais. Ao coreógrafo, remete-o para o universo de O Jardim das Delícias, de Bosch, o mesmo que dizer para um lugar em que reina o prazer e o deleite. “É também este lugar em que tudo nos é permitido, em que somos realmente livres, em que não temos constrangimentos.”
Por outro lado, e por muito que haja a vontade de criar um coro que transmita a noção de colectivo, nenhum intérprete perde a sua individualidade. “Apesar de não terem nenhum adereço que caracterize o seu estatuto, é na sua própria fisicalidade que está a informação de quem é que podem ser aqueles corpos. É algo que vem de dentro para fora, não é uma coisa de fora que coloco para me dar essa informação”, realça. E o facto de os bailarinos estarem nus em palco também parte desse desejo, já que a roupa que vestimos é um símbolo que, por si só, carrega significado. “Queria que fosse centrado nestes corpos que são feitos de carne, ossos, pêlo, cabelos, olhos e dentes, e que em si já têm uma carga muito grande. E que em neles possamos ver tudo aquilo que nos ameaça, reprime, atormenta. Mas também que nos delicia e, acima de tudo, que nos liberta.”
Dos 19 intérpretes, quatro (Valter Fernandes, Dinis Duarte, Ângela Dias Quintela e Daniela Cruz) foram os primeiros a ser escolhidos e já trabalham com Victor Hugo Pontes há mais de dez anos. Os restantes foram seleccionados, de um total de mais de 300 candidaturas, numa audição que aconteceu em Fevereiro deste ano. A música é de João Carlos Pinto, com quem o coreógrafo trabalhou pela primeira vez. O trabalho começou assim há vários meses, mas com os bailarinos o coreógrafo trabalhou apenas durante dois meses. Daí, o espectáculo que se estreou em Aveiro, na passada sexta-feira, 6 de Dezembro, não é exactamente o mesmo que agora se vai ver no CCB. O final está ainda a ser trabalhado, por exemplo.
“Enquanto eu não estiver satisfeito, vou trabalhar sempre. Enquanto tiver essa oportunidade, vou fazê-lo. Eu devo estar concretizado com aquilo que apresento. Interessa-me estar contente, mas não é só isso. Também tem a ver com o facto de achar que uma ideia, quando transmitida, vai ter uma certa leitura por parte do público e, às vezes, a leitura é completamente oposta. Quando isso acontece, então tenho de repensar de que forma estou a passar a ideia, porque não é esse o sítio aonde quero ir”, remata.
Depois de passar por Lisboa, Há qualquer coisa prestes a acontecer vai passar pelo Teatro Nacional São João, no Porto, no fim de Fevereiro de 2025, e depois em Ovar.
CCB – Centro Cultural de Belém. 13-14 Dez. Sex 20.00 e Sáb 19.00. 12€-20€
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