Passados 32 anos, continua a ter, provavelmente, uma das melhores vistas de Lisboa. Ao longe avista-se a ponte, o Tejo e o Cristo Rei iluminado – este cenário, contudo, não será novidade para quem já conhece o Via Graça. A atenção, desta vez, está na cozinha aberta do renovado andar de cima, onde Guilherme Spalk e a equipa dão início ao serviço para mais uma noite de trabalho no 9B, o restaurante de fine dining que abriu justamente por cima do incontornável espaço da Damasceno Monteiro. Nada tema em relação ao Via Graça – continua no andar de baixo, com a mesma carta que tantos clientes fidelizou, mas com o chef que já passou pela Taberna Fina, de André Magalhães, aos comandos.
Visitámos o 9B numa noite particularmente calma de Dezembro. A sala quase vazia intimidava, mas assim que os pratos começaram a sair fomos invadidos por uma ligeireza que só a comida consegue transmitir. Antes de escolher o que viria para a mesa, foram-nos dadas duas opções: o menu 9+b, com nove pratos e “uma homenagem a Lisboa” ou uma segunda proposta, o 9+9, “uma viagem mais extensa por Portugal”, com 18 momentos. A decisão ficou a cargo do chef e fomos pelo último. “Afinal, se é para provar mais vale ir para o mais comprido”, adiantou-nos. Seguiram-se duas horas de serviço que não nos deixaram a rebolar, mas que mostraram que a comida de autor pode ser descomplicada e que, acima de tudo, ganha muito em ter um fio condutor entre pratos.
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Com 18 momentos, o menu corria o risco de se tornar confuso, explica Guilherme. Para começar, entraram uns snacks do mar, passámos para os snacks da terra e por fim para os da horta. Confuso? Talvez. “Há muitas entradas, há peixe, vegetarianos, outras carnes”, confirma o chef. Para não correr o risco de se tornar confuso, Guilherme Spalk recorreu à ligação entre ingredientes de uns pratos para os outros. Essa ligação torna-se evidente bem cedo, quando provamos a cabeça de gamba branca do Algarve, que abre caminho para o prato que se segue: o corpo da gamba servida anteriormente acompanhada de xerém e poejo.
O objectivo do chef, conta-nos, “é trabalhar a memória”. O menu flutua, leva-nos aos altos e baixos, tentando não dispersar a atenção, “mas sem cair”, ressalva. Um dos pontos altos, já nos principais, é mesmo quando nos chega um prato com o molho de cerveja com um apontamento de picante do cabrito alentejano também servido anteriormente para molhar no pão. À primeira vista parece redutor mas Guilherme confirma-nos que não somos os primeiros a sugerir tal coisa. O mesmo se passa em relação à lula dos Açores ou ao robalo de anzol com aipo e caviar. “Isto é só comida, no fundo”, justifica.
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Passando à frente, pois o repasto é longo, nas sobremesas a lógica mantém-se. São três – primeiro a maçã Bravo de Esmolfe, depois a pêra Rocha com tomilho-limão e uvas verdes com chocolate e Madeira a finalizar. Importante é mencionar as escolhas do escanção Diogo Frade, que aposta em trabalhar “com produtores de nicho” e em descobrir as “colheitas perdidas” da garrafeira do Via Graça. Para acompanhar os dois menus de degustação (o mais curto a 62€ e o mais demorado a 84€), há três propostas de harmonização de vinhos (35€, 42€ ou 64€) que nos levam a viajar por topos de gama, ao mesmo tempo que nos mostram um novo mundo de produtores desconhecidos, mas repletos de qualidade.
El flamante titular de la cartera educativa peruana, Rosendo Serna, dijo que "hay que garantizar el derecho a la educación y una de las formas es trabajar para que las condiciones sean óptimas".