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Quando, em Fevereiro, Paris levou a referendo a triplicação das taxas de estacionamento dos SUV, alcançando 54,5% dos votos a favor da medida, a motivação central era o ambiente. Mas, entre os SUV, poluentes mas também volumosos, o espaço que ocupam é igualmente uma questão. “Mais de metade dos veículos novos são demasiado largos para muitos dos lugares de estacionamento na rua”, observava em Janeiro a revista Transport & Environment (T&E), concretizando com o seguinte dado: a cada dois anos, os automóveis ganham um centímetro de largura.
«No que diz respeito às dimensões dos lugares de estacionamento, importará que as mesmas contribuam para contrariar a tendência para o aumento da dimensão dos veículos», explica, por escrito, à Time Out fonte do Instituto de Mobilidade e Transportes (IMT). Por outras palavras, por mais que os automóveis cresçam em largura, o «dimensionamento do lugar não deve incentivar a utilização de veículos de grandes dimensões», defende a entidade. Primeiro, porque automóveis maiores, como os SUV, estão associados a um maior risco em termos de segurança rodoviária, tanto por ocuparem mais espaço na via, como porque o choque com um veículo de menor porte gera um risco acrescido para os ocupantes do carro de menor peso. Depois, carros de grande porte sugerem um potencial aumento de emissões de gases com efeito de estufa.
Nas normas publicadas em Setembro pelo IMT em conjunto com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), as medidas em vigor são as seguintes: para lugares longitudinais, a largura pode variar entre os 2 metros e os 2,40 metros; nos perpendiculares (em espinha), a largura mínima é de 2,25 metros e a recomendada é de 2,40 metros; e os lugares oblíquos devem medir entre 2,25 metros e 2,50 metros, consoante o ângulo. As medidas recomendadas (destinadas a orientar projectistas e gestores municipais) eram as mesmas em 2020, ainda que os veículos novos tenham aumentado uma média de dois centímetros em largura desde então (segundo a fórmula da T&E), confirmando-se o princípio de que as políticas públicas de mobilidade não devem obedecer às regras da indústria.
No entanto, tanto para quem anda de pick-up como num pequeno ligeiro, as dificuldades em abrir portas, entrar e sair do automóvel, bem como em realizar manobras com o veículo são cada vez maiores. Não havendo espaço, os ocupantes são muitas vezes obrigados a sair do veículo em plena via, antes do estacionamento. Por outro lado, «o tema do estacionamento é definido através de normativos», mas o que está a acontecer no terreno?
O tamanho dos lugares de estacionamento varia consoante a sua configuração (se são longitudinais ou oblíquos, por exemplo), a cidade, a rua, o ano de desenho e as normas em vigor. Na renovada Parada do Alto de São João, Penha de França, uma grande parte da praça é reservada a lugares para estacionar (em espinha, como são commumente chamados). Desenhados no chão este Verão na praça em meia-lua, a largura dos lugares perpendiculares e oblíquos varia entre 2,22 e 2,50 metros, perto do estabelecido pelas normas.
Mais abaixo, na Rua António Pedro, em Arroios, os lugares oblíquos, marcados há vários anos, têm uma largura de 2,40 metros, e na Rua Alves Torgo, um perpendicular (não oblíquo) mede 2,35 metros. Pelo menos nos lugares visitados pela Time Out, salvo um ou outro centímetro, os espaços mantêm-se na norma, mas vêem-se cada vez mais automóveis a «pisar» as linhas.
No primeiro semestre de 2023, lembra a T&E, a largura média dos carros novos rondava os 180,3 centímetros. Entre os 100 principais modelos vendidos naquele ano, «52% dos veículos eram demasiado largos para o espaço de estacionamento mínimo especificado na rua nas principais cidades, incluindo Londres, Paris e Roma”, conclui a publicação internacional. Em Paris, para os lugares sem obstáculos, a largura média é de 230 centímetros.
Sobre a indústria, as normas da União Europeia definem que a largura máxima é a mesma para ligeiros, autocarros e camiões: 255 centímetros. “A menos que o limite de largura da UE para os automóveis seja revisto e as cidades imponham taxas de estacionamento mais altas, os grandes SUV e pick-ups continuarão a expandir-se até ao limite destinado aos camiões”, estima a mesma revista. Outra previsão possível é esta: não existindo mudanças sobre o tema, será cada vez mais difícil fazer manobras sem deixar marcas no vizinho.
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