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A Brasileira vai restaurar pinturas históricas e procura novos artistas para expor (e premiar)

todaymayo 17, 2024 19

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A Brasileira vai restaurar pinturas históricas e procura novos artistas para expor (e premiar)

1923. O fundador de um dos cafés que faria mais história no país, Adriano Telles, começa a encomendar pinturas aos modernistas para aprimorar o espaço do Chiado. Na altura, pôde passar-se a beber café de saco com Almada Negreiros, António Soares, Jorge Barradas, Bernardo Marques, Stuart Carvalhais, José Pacheko e Eduardo Viana. Em 1971, o lugar de tantas tertúlias e conspirações recebeu a segunda geração de obras, que é a que se mantém até hoje entre os contornos d’A Brasileira. Mais de 50 anos depois, o café de saco já não é servido no Chiado e também as pinturas desaparecerão das paredes por alguns meses, mas apenas para restauro. É durante esse período que os trabalhos dos dez vencedores do Prémio de Pintura A Brasileira do Chiado estarão expostos no café.

Café A Brasileira, no Chiado
Francisco RivottiCafé A Brasileira, no Chiado

 

“A primeira geração de quadros de pintores modernistas d’A Brasileira foi colocada no estabelecimento em 1925. Cem anos depois, o Café desafia novos pintores”, explica o grupo O Valor do Tempo, que detém (desde 2020) o espaço fundado em 1905, em comunicado. O prémio, de mil euros para cada  artista distinguido, destina-se às dez melhores obras avaliadas pelo júri. 

 

Podem participar criadores de nacionalidade portuguesa, maiores de 18 anos, que possuam um grau académico na área de artes visuais ou similar, e que apresentem pinturas em tela até ao dia 30 de Setembro. Os vencedores deverão ser conhecidos a 19 de Novembro, dia do 119.º aniversário d’A Brasileira. 

Dez pinturas seguem para restauro

 

Se a colecção do café A Brasileira faz do espaço “o primeiro museu de arte contemporânea de Lisboa”, como dizem os actuais proprietários, então, olhemos para ela, já que deixaremos de poder fazê-lo durante um tempo (à excepção da pintura Máscara Humana, de Noronha da Costa, que não é possível retirar). São todas de 1971, mas cada uma conta a sua história. Há a Natureza Abstratizada, Manuel Batista; a Homenagem a Eduardo Viana – Sintra, de Fernando de Azevedo; e, talvez a mais icónica de todas, Retrato dos Críticos, de Nikias Skapinakis, em que o artista decidiu “retratar os quatro críticos que seleccionaram os novos pintores d’A Brasileira num retrato emblemático em que põe em situação um determinado grupo de indivíduos perdidos na sociedade portuguesa”, nas palavras do historiador de arte, José-Augusto França, ele próprio pintado sobre a tela (na pintura em baixo, é o quarto indivíduo, da esquerda para a direita).

Retrato dos Críticos, de Nikias Skapinakis
DRRetrato dos Críticos, de Nikias Skapinakis

Prosseguindo, há também a “pintura orgânica e carnal” de Marcelino Vespeira, Forma Abstrata; a referencial Cena com figura inspirada numa obra de Marcel Duchamp, em que António Palolo reinterpreta o bilhete postal publicitário de “Apolinère Enameled”, colocando a rapariga ao centro a pintar quadros d’A Brasileira; há Café, de João Vieira; Cena com Arquitectura, um “cenário-convite para uma vivência absurda”, criado por Eduardo Nery; a “propositada ingenuidade” de Joaquim Rodrigo, em Marbella – Apontamentos de Viagens; a famosa imagem do “velho gaiteiro” que bebe a bica d’A Brasileira, transformada por Carlos Calvet, em Alegoria à Brasileira; e, por último, Paisagem de Porto Covo, de João Hogan. 53 anos depois, todas descem das paredes para serem restauradas e darem (temporariamente) lugar a outros.

Quanto à primeira colecção do café do Chiado, a dos anos 1920, que chocou mais de meia Lisboa pela sua modernidade, terá sido vendida nos anos 70 pelo proprietário Adriano Telles. “Estavam em muito mau estado, por causa dos vapores, mas na altura não havia dinheiro para as mandar restaurar”, conta à Time Out Sónia Felgueiras, directora de marketing do grupo O Valor do Tempo. Hoje, cinco têm paradeiro desconhecido; duas – Banhistas e Auto-retrato dos Críticos, de Almada Negreiros – estão na Gulbenkian; Cena de Aldeia, de Jorge Barradas, está nas mãos de um particular; e outras duas – Paisagem de Sintra e Paisagem do Algarve, de Eduardo Viana – estão no gabinete do Presidente da República, no Palácio de Belém. Uma última – Interior, de António Soares – pertence à família do fundador d’A Brasileira. Em 2021, algumas das obras estiveram no Museu Nacional de Arte Contemporânea, a poucos metros de distância do café histórico de Lisboa, na exposição “A Brasileira do Chiado, Café Museu 1925-1971”.

 

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Escrito por CURVA_$E$I

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